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Posts Tagged ‘Educação’

Vygotsky e Bakhtin são dois pensadores russos que nasceram no final do século XIX (um em 1896 e outro em 1895). Morreram em 1934 e 1975, respectivamente. Ambos, mesmo vivendo e tendo sofrido algum tipo de perseguição sob o governo autocrático de Stálin, conseguiram produzir uma obra que é referência hoje, seja na área educacional (Vygotsky) seja na área da Teoria Literária ou da Filosofia da Linguagem (Bakhtin).

A obra de Vygotsky ficou desconhecida durante todo o período mais duro do stalinismo, que se encerrou com a morte do ditador em 1954. Logo a seguir a União Soviética passou por um processo de abertura, ainda que tímida, e no início dos anos 60 ela começou a ser publicada, primeiro na URSS e a seguir na Inglaterra, EUA, etc.

Quanto a Bakhtin, foi preso em 1928, devido sua ligação com grupos filosóficos-religiosos. Começou, então, um périplo do autor por vários lugares longe de Moscou onde teve de lutar pela sobrevivência, em condições extremamente adversas. Em 1929 publicara o seminal Problemas da poética de Dostoievski, um dos seus livros mais brilhantes. A visão da linguagem presente nesse livro, onde são desenvolvidas as noções de polifonia e de dialogismo, colidia com a rigidez ideológica e discursiva do credo stalinista. Tudo indica que pagou um alto preço por isso. Em 1946 submeteu seu ensaio sobre Rabelais e a cultura popular da renascença à nomenklatura acadêmica soviética para obtenção de título de doutorado, sendo ridicularizado por ela. Somente em 1952 obteve o título de doutoramento. Isso não alterou sua situação pessoal, de muita dificuldade.

Novamente, com a morte do ‘Grande Irmão’ Stálin, foi descoberto por seus alunos e seus trabalhos começaram a ser publicados no início dos anos 60. Com a saúde abalada, sobreviveu até 1975 e ainda pode usufruir de certo reconhecimento.

As idéias de ambos sobreviveram ao socialismo soviético e quando veio a derrocada desse regime no leste europeu, simbolizada pela queda do muro de Berlim em 1989, ganharam um impulso notável em todo mundo, inclusive no Brasil.

Vygotsky e Bakhtin foram contemporâneos e embora não tenham se conhecido pessoalmente, compartilharam em suas obras de idéias-chaves comuns, originárias do rico caldeirão cultural que começou a existir na Rússia nos anos anteriores à 1ª Guerra e se estendeu à década de 20, em particular as idéias e discussões sobre a linguagem catalisadas pelo chamado Formalismo Russo. É esse background cultural comum que explica a convergência de pensamento entre esses pensadores.

As idéias de Vygotsky são discutidas, hoje, no campo da pedagogia. Ele desenvolveu uma concepção original da formação (e da aprendizagem) do indivíduo na qual a linguagem prático-discursiva assume um lugar central. A partir do momento que o indivíduo aprende a usar a linguagem todo seu aparato bio-psicológico se transforma e ele se encaminha para a formação de uma consciência semiótica de natureza eminentemente cultural.

Bakhtin, por sua vez, analisando a linguagem, conclui que os signos são a matéria-prima da consciência humana e que, por isso, essa consciência é essencialmente semiótica.

A visão comum sobre a natureza semiótica da consciência humana tornou possível uma nova maneira de entender o homem e abriu uma janela para o estudo, entre outros temas, dos signos, da cultura que os cria e do incrível mecanismo da aprendizagem que cada cultura põe à disposição dos indivíduos para sua aquisição.

Vale a pena conhecer as idéias desses pensadores cujo inventário e impacto sobre as ciências humanas em geral e a educação, em particular, estão em curso no Brasil.

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Para Einstein, a mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original. É uma idéia sensacional, que suponho ter surgido na cabeça de Einstein a partir da reflexão sobre sua própria experiência de vida.

Podemos dizer que isso é o que acontece na aprendizagem. De fato, quando aprendemos algo isso nos modifica porque deixamos para trás um pouco do que éramos antes daquele instante.

Vigotski tem uma idéia semelhante à de Einstein. Diz ele que quando se aprende um signo nosso cérebro se transforma, porque esse aprendizado produz “ação reversa”, isto é, muda nossa realidade interna, psicológica.

Temos, portanto, dois gênios do século XX falando de coisas bem semelhantes. Idéias simples que ajudam a compreender a importância do trabalho educacional.

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Publiquei uma série de 5 artigos sobre o pensamento de Vigotski. Houve uma participação muito grande das pessoas, comentando diferentes aspectos abordados por esses artigos.

Quero agradecer a todos – também os que fizeram leitura, mas não comentaram – que participaram, muitos dos quais tendo que fazer um esforço extra para participar pois não possuem acesso à internet.

Com toda essa participação construímos um grande diálogo virtual muito interessante.

Obrigado a todos.

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Introdução

Dando seqüência à série de artigos sobre o pensamento de Vygotsky, falaremos hoje sobre dois importantes conceitos desse autor: a Aprendizagem e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Além disso, desenvolveremos algumas idéias sobre o papel do professor em uma perspectiva vigotskiana.

Vigotski compreende que a escola é uma instituição chave no desenvolvimento do indivíduo, justamente porque é nela que ele dá o passo fundamental para a formação de sua consciência semiótica ao aprender com o professor o conhecimento acumulado pela experiência humana, de forma sistemática (“conceitos científicos”), superando, assim, pré-conceitos adquiridos na interação social cotidiana e pré-escolar.

Para Vygotsky, a aprendizagem é condição para o desenvolvimento. Se na escola ele supera pré-conceitos e aprende novos conceitos, então o indivíduo se desenvolve intelectualmente na medida em que expande sua capacidade de memória, de atenção, de percepção, de pensamento e de linguagem, enfim, expande sua consciência semiótica, qualificando-se mais para a interação social. Portanto, a tarefa central da escola é a aprendizagem.

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Conceito

Mas o que é a aprendizagem? E como ela ocorre? Para responder a essas perguntas Vigotski formulou o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Segundo esse autor, é preciso considerar que todo indivíduo, numa situação de aprendizagem, já possui um certo nível de desenvolvimento, que lhe dá uma capacidade de resolver um problema de forma autônoma, sem o auxílio de outra pessoa. Significa dizer que ele tem uma Capacidade Real (CR), “já sabe alguma coisa”. Ao mesmo tempo, ele possui também alguma capacidade de resolver um problema com auxílio de outra pessoa, tem uma Capacidade Potencial (CP). Seria parecido com a seguinte situação: um bebê engatinha. Ele já tem uma capacidade real de se movimentar sozinho. Não anda, mas é óbvio que possui um potencial para tal. A mãe, sabendo disso, o auxilia, agarrando suas mãos, colocando-o de pé e estimulando-o a andar, o que acaba ocorrendo.  

A Zona de Desenvolvimento Proximal é a ‘diferença’, o ‘espaço’, a ‘distância’, entre esses dois níveis de capacidade do indivíduo. Nas palavras de Vygotsky: “Em qualquer área, a criança tem um nível evolutivo real que pode ser avaliado quando ela é individualmente testada, e um potencial imediato para o desenvolvimento naquela área. A diferença entre os dois níveis é a zona de desenvolvimento proximal.”

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Professor: Assitente/Suporte e características

O professor, como está claro, exerce um papel chave nesse processo: ele dá assistência, auxilia, enfim, promove o desempenho assistido do aluno na Zona de Desenvolvimento Proximal. Alguns autores falam dessa assistência como suporte, que teriam as seguintes características:

1) ajustável – o suporte ou a assistência deve estar de acordo com o nível de competência do sujeito menos especializado;

2) Temporal – A assistência ocorre em um lapso temporal. Se o suporte/assistência for constante (crônica) não proporciona a autonomia do desempenho.

3) Audível e visível – para que se desenvolva um controle gradual de resolução das atividades no sujeito menos especializado, ele deve ser consciente de que é assistido ou auxiliado na execução da atividade. Deve conhecer que os avanços aos quais tem acesso são produto de uma atividade intersubjetiva, que, assim, passa a fazer sentido para ele.

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Assimetria e base dialógica

Finalmente outra característica muito importante: Reconhece-se existir na assistência e/ou suporte, uma assimetria na relação professor aluno. Isso é algo inevitável na ZDP. Mas, é próprio do ensino, também, o compartilhamento do conhecimento que acontece sempre com base no diálogo. Como diz um autor:

A participação em diálogos produz um modelo que permitirá aos novatos adotar os objetivos e os valores próprios da aprendizagem. 

 

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