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Archive for the ‘Vygotsky’ Category

Por isso mesmo Vigotski cria o conceito de Funções Psicológicas Superiores, também chamadas de processos psicológicos superiores, funções características do ser humano. Quando a criança nasce ela possui funções psicológicas básicas – ou elementares. No processo de interação social da criança com os adultos e com as outras crianças, as funções elementares se transformam em funções superiores. Essa transformação foi profundamente estudada por Vigotski. Interação social é a relação comunicativa e significativa entre duas ou mais pessoas. Na teoria vigotskiana, a interação entre a criança e o adulto é vista como assimétrica e primordial. Assimétrica porque a experiência e a vivência do adulto são diferentes da experiência e da vivência da criança. No entanto, essa diferença é primordial para o desenvolvimento da criança na infância pois os adultos, como portadores de mensagens da cultura, possibilitam que as crianças internalizem essas ‘mensagens’, e se transformem

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Uma dessas transformações é a que faz a criança evoluir do Pensamento prático para o pensamento verbal (simbólico). A criança, até mais ou menos os dois anos, possui uma forma bem simples de pensamento que Vigotski chama de pensamento ou inteligência prática. Se a criança vê uma caixa de biscoito em cima da mesa e um banco perto dessa mesa ela vai tentar subir no banco para pegar os biscoitos. Traduzindo: ela vê os biscoitos e os deseja. Mas não tem altura para pegá-los. Está diante de um problema, portanto. No entanto, vendo o banco ela consegue solucionar o problema. O mesmo ocorre com um chimpanzé que de dentro de uma jaula não consegue alcançar um prato de frutas do lado de fora. Se tiver uma vara no seu campo visual e à sua disposição, ele vai pegá-la e tentar puxar as frutas. Em ambos os casos podemos perceber a mesma capacidade prática de resolução de problemas. Em ambos os casos problemas são solucionados se um instrumento estiver no campo visual da criança ou do chimpanzé (o banco ou a vara). Vigotski conclui dessas experiências que tanto a criança quanto o chimpanzé não conseguem pensar de forma simbólica. Falta-lhes a capacidade representacional só possível com a aquisição da linguagem em sua função simbólica. Assim, o pensamento prático diz respeito à capacidade de a criança resolver problemas de sua experiência imediata, quando ainda não domina a atividade psicológica representacional.

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Daí a importância do Pensamento verbal (simbólico). Veja-se o seguinte exemplo: suponha que algum adulto vá de carro a um médico no Rio de Janeiro, em Copacabana. Digamos que ele conheça bem o Rio de Janeiro. Quando já estiver no centro do Rio de Janeiro, essa pessoa percebe a ocorrência de uma passeata na Av. Presidente Vargas, por onde ela deveria passar. Como pouco tempo para chegar ao consultório médico, ela constata estar diante de um problema. O que pode fazer? Bem, essa pessoa pode imaginar um caminho alternativo. Ela faz um mapa mental das ruas que terá de passar, dos bairros, até chegar ao meu destino. Ora, essa atividade mental é totalmente simbólica. A pessoa representa o roteiro na sua cabeça, com base no nome das ruas que conhece, ruas essas que não estão em seu campo visual. Ora, a solução encontrada para o problema constituiu numa atividade de pensamento simbólico, totalmente diferente do pensamento prático. Esse é apenas um exemplo que mostra que nós, os adultos, desenvolvemos uma atividade mental, um pensamento altamente simbólico. E isso nos diferencia de todos os animais. Pensamento verbal (simbólico) é um pensamento representacional, que usa os signos culturais para imaginar, refletir, solucionar problemas, enfim, pensar.

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Como é perceptível, para a solução desse problema a pessoa usou a Linguagem (representando na mente os nomes das ruas, bairros, etc). A chave para que a criança possa deixar para trás o pensamento prático e desenvolver o pensamento verbal é a linguagem, cuja função simbólica (representacional) é caracteristicamente humana. Quando Vigotski diz linguagem, quer dizer fala, discurso. Ou melhor ainda, a capacidade de falar. Por volta dos dois anos, mais ou menos, a criança começa a falar. Esse é o fato da maior importância. Quando isso ocorre seu pensamento prático começa a se transformar, progressivamente, em pensamento verbal (simbólico). A aquisição da capacidade de falar, portanto, vai permitir à criança desenvolver-se até se tornar um ser humano completo, culturalmente definido.

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Dá para perceber, portanto, que Linguagem e Cultura estão intimamente associadas. As mensagens transmitidas pelos adultos, no processo de interação social, essas mensagens são, na realidade, os significados e os sentidos presentes na cultura em que os adultos estão inseridos. Significados e sentidos da cultura na qual a criança também está inserida. Por isso que não dá para separar o aparato psicológico do indivíduo do seu contexto cultural. A ‘teia’ de que fala Geertz, começa a nos amarrar desde o início de nossas vidas. Essas teias são sígnicas, formadas por Signos – o que serve para comunicar e significar para os adultos e que, com a transmissão, passam a servir para a comunicação e a significação para as crianças. Internalizamos os signos é o preço que pagamos para entrarmos na cultura. Mas, um preço que vale a pena, pois só há liberdade na cultura. A aquisição da linguagem permite a construção de um aparato psicológico inteiramente semiótico (pleno de signos) que nos define como humanos. Esse aparato é a nossa consciência semiótica (Bakhtin). Em resumo, podemos dizer que a aprendizagem ocorre com a Interação social. A leitura atenta desses conceitos nos permite concluir o seguinte: o processo de aquisição das funções psicológicas superiores, em particular a linguagem e o pensamento é, essencialmente, um processo de aprendizagem. O que ocorre na interação social entre a criança e o adulto nada mais é do que um processo de aprendizagem. Uma aprendizagem da maior importância, pois nos possibilita o desenvolvimento da nossa consciência semiótica, ou seja, do aparato psicológico humano, da consciência integralmente humana. Sem a interação social, portanto, não há aprendizagem cultural ou humana, o que significa a mesma coisa eis que não existe ser humano sem cultura. Por isso Vigotski entende que a aprendizagem precede ao desenvolvimento: o ser humano aprende e, com isso, se desenvolve, visão essa que é totalmente diferente da visão de Piaget, para quem, primeiro ocorre o desenvolvimento para depois haver a aprendizagem.

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Quarta-feira assisti uma aula em vídeo (DVD) da professora Martha Kholl de Oliveira sobre Lev Vygotsky, em uma exposição muito clara e didática. Essa iniciativa de expor as idéias desse pedagogo em DVD mostra que está se abrindo uma nova fase no processo de divulgação das idéias desse autor, duas décadas após seus livros terem sido publicados no país.

Essa nova fase, de ampla massificação dessas idéias, parece surgir com uma característica bem marcante: a qualidade de cada trabalho de divulgação, de que é exemplo o próprio trabalho que comentamos.

O que mais me chamou a atenção na aula da professora foi um trecho da exposição em que ela fala o seguinte: “na área da Psicologia da Educação Piaget tem sido a nossa principal referência, historicamente. Então, o aparecimento do Vygotsky trouxe uma alternativa e o Piaget não é um autor que se preocupe particularmente com a escola, com o professor e com a intervenção pedagógica”. Logo a seguir, diz o seguinte: “o aparecimento do Vygotsky atrai os educadores porque é um autor que fala da escola, fala do professor e valoriza a ação pedagógica e a intervenção”.

De fato, Piaget centrou suas pesquisas no desenvolvimento infantil, procurando definir as várias fases que a criança atravessa no processo de construção de seu desenvolvimento psicológico. Não focaliza tanto o papel da escola e, em particular, do professor nesse processo.

Vygotsky, no entanto, acentua o papel chave da escola no processo de desenvolvimento da criança por que é nela que é ensinado o conhecimento acumulado e organizado pelas gerações passadas que, ao ser transmitido, elimina a necessidade de o indivíduo ter de começar tudo do zero, possibilitando o próprio desenvolvimento.

E, justamente nesse ponto, se coloca a importância do professor. O conhecimento está na cabeça das pessoas e não na escola enquanto instituição. É o professor que detém esse conhecimento e os instrumentos técnicos necessários à transmissão, no complexo e insubstituível processo de interação professor/aluno que acontece na zona do desenvolvimento proximal.

O professor é, portanto, o personagem central no processo de aprendizagem. Verdade antiga, mas um pouco esquecida, e que a mais ampla divulgação das idéias vigotskianas vai recolocá-la em toda sua plenitude no cenário educacional brasileiro.

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