Novamente o jornalista Bruno Garcez – enviado especial da BBCBrasil à South Bend (Indiana) – escreve uma matéria bem interessante (publicada no site da BBCBrasil), através da qual podemos inferir as novas relaçoes entre a cultura e a política nos EUA. A matéria tem o seguinte título: “QG de Obama em Indiana é ‘vizinho’ da sede da Ku Klux Klan” .
Diz, em síntese, que o escritório eleitoral da campanha de Obama no Estado de Indiana fica a cerca de 18KM da sede da organização supremacista branca KKK, a qual ainda está ativa. Diz, também que um de seus líderes mora numa pequena cidade – Osceola – e que promovia passeatas na região há dez anos atrás.
Mas o foco central da matéria é sua constatação de que, depois de desenvolver intensas atividades, no início do século passado, em Indiana, e contar com uma forte base militante, as atividades da ‘Klan’ veio diminuindo. Citando a jornalista Nancy Sulok, do jornal South Bend Tribune, a reportagem diz que ainda na década de 90 foi possível organizar comícios em Indiana, com a participação de pessoas de diversas partes dos EUA. No entanto, essas atividade foram diminuindo aos poucos à medida em que, várias “pessoas começaram a promover eventos de conscientização com ajuda de igrejas locais para esclarecer os moradores sobre o que a KKK representava”, ainda conforme a citada jornalista.
Finalmente, a reportagem transcreve falas de moradores relacionando essa questão do racismo com as eleições americanas.
Cita, em primeiro lugar, Ken Baierl, morador de South Bend e eleitor de Barack Obama. Para ele, os moradores locais já superaram o legado racista:
”As pessoas estão olhando para Obama pelo que ele representa, não pela sua aparência. As pessoas não estão preocupadas com a raça dele e sim com o que ele pode fazer pelo país. E isso é um grande passo para os Estados Unidos.”
Cita outro eleitor do candidato democrata, Doug Archer, que põe em dúvida a possibilidade de o racismo ter sido eliminado da vida local, porém acredita que o pior já passou:
”Acho que (o racismo) ainda não desapareceu. Há atitudes que ainda permanecem e que remetem a gerações passadas. Mas espero que a maioria tenha deixado isso para trás. Ele (Obama) está olhando para o futuro e falando para todos os americanos.”
Faço os seguintes comentários: Em primeiro lugar cabe destacar a sensibilidade do jornalista. Em meio a um tsunami econômico-financeiro, onde todos só falam de economia para explicar a ascensão do candidato democrata, ele vem destacando aspectos, digamos, submersos, mas não menos importantes dessas eleições presidenciais.
Dá para observar o seguinte: houve uma evidente decadência da sub-cultura racista na América. Penso que esse fenômeno foi seguido da disseminação de uma visão mais multicultural, de aceitação do plurarismo cultural e, conseguentemente, da tolerância inter-racial. Caso seja correta essa hipótese, teria isso a ver com a educação americana dos anos 70, 80 e 90? Não posso dizer pois desconheço o que aconteceu com a educação americana nessas décadas.
Mas, certamente, a candidatura do Sr. Barack Obama tem a ver com isso, também. Muitos dizem que a origem de tudo estaria na luta dos direitos civis da década de 60. Concordo. Mas se não tivesse havido alguma mudança cultural posteriormente, atribuível à educação, poderia até haver candidato negro, mas não candidato negro com chances (muito) reais de governar os EUA.
Olhem bem as seguintes frases ditas pelos entrevistados:
“As pessoas não estão preocupadas com a raça dele e sim com o que ele pode fazer para o país. E isso é um grande passo para os Estados Unidos”.
“Ele (Obama) está olhando para o futuro e falando para todos os americanos”.
São frases que mostram uma grande abertura cultural. E estão absolutamente corretas.
Acrescentaria uma pequena coisa: Obama está falando para o mundo também e sua eleição é um grande passo para a humanidade…não só para os EUA.
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